As consultoras de comunicação gostam de acentuar a palavra "consultoria" nos serviços por elas prestados. Porque, naturalmente, o
fee por hora associado à palavra "consultor" é superior ao associado à palavra "assessor". Para se revestirem da autoridade associada à actividade da consultoria de negócio, rodeiam-se também de um léxico paralelo de forma a gerar um certo elãn de knowledge... e assim nasce o abuso dos termos "reputação", "influência", "integrado", entre outros.
O novo termo usado para vender serviços para além da assessoria de imprensa é "digital". Porque é fresco, porque o mercado para lá anda virado, porque se crê que os custos associados são menores, porque o twitter, porque o facebook, porque o ROI et al. Eu por lá ando, como os outros. A partilhar conteúdo que gosto e que acho que faz sentido junto das pessoas com quem estou conectado.
Mas. Mas a transição para o digital não pode ser feita de forma leviana, ao aplicar exactamente o mesmo conteúdo e mensagem transmitida no
offline para uma plataforma onde as regras são, de facto, diferentes. Porque senão, os senhores consultores de comunicação estarão também a replicar os seus vícios de trabalho de que agora tanto fogem, tornando-se em "assessores de imprensa digitais" em vez de "consultores de comunicação estratégica".
Digo isto porque sofro de um mal no meu perfil do facebook. Basicamente, 80% dos
requests que me foram dirigidos nas últimas duas semanas provêm de fontes (pouco) sofisticadas de informação. Assim que os "requests" e as "suggestions" do Facebook se tornaram rapidamente no "Press Release 2.0". Com a agravante de que a informação veiculada é directa e portanto nem sequer um bocadinho filtrada por um curador (vide jornalista estagiário), aumentada pelo efeito spam que isso provoca na minha caixa de e-mail e revelando por completo a identidade das pessoas que veiculam essa informação (os consultores). Que, de resto, me enviam conteúdo sobre inaugurações de filmes (que se realizam em distritos onde eu não moro), movimentos e causas (que não me dizem nada) festas (em londres ou em São Paulo), entre outras informações que nada têm a ver com o meu perfil.
É certo que a interactividade do conteúdo partilhado nas redes sociais permite aprofundar as mecânicas do
press release. Há links, há quizzes, há eventos e outras brincadeiras a explorar.
Mas. Mas isto tem de ir lá de outra forma. Senão, dentro em breve, arriscam-se a que haja outras pessoas como eu - sensíveis e com a mania que sabem - a criar grupos tipo "I hate PR professionals on Facebook". Ou "I hate when (inserir marca odiada aqui) spams me on facebook". E com este tipo de trabalho, estes profissionais deixam de ser consultores e passam a ser asessores outra vez. Digitais, mas assessores.
A resolução deste problema poderia passar pela criação de ferramentas próprias para profissionais de mark&com nestas redes. Autenticando-os, identificando-os, permitindo o envio segmentado de informação para os utilizadores.
Não sei.
Mas. Mas qualquer dia um cliente irá pedir a uma qualquer empresa de "consultoria de comunicação" "quanto custa para enviar um press release pelo facebook? E quantos friends é que a vossa empresa tem mesmo?".