sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Comunicação 2.0 sofre dos vícios do 1.0

As consultoras de comunicação gostam de acentuar a palavra "consultoria" nos serviços por elas prestados. Porque, naturalmente, o fee por hora associado à palavra "consultor" é superior ao associado à palavra "assessor". Para se revestirem da autoridade associada à actividade da consultoria de negócio, rodeiam-se também de um léxico paralelo de forma a gerar um certo elãn de knowledge... e assim nasce o abuso dos termos "reputação", "influência", "integrado", entre outros.

O novo termo usado para vender serviços para além da assessoria de imprensa é "digital". Porque é fresco, porque o mercado para lá anda virado, porque se crê que os custos associados são menores, porque o twitter, porque o facebook, porque o ROI et al. Eu por lá ando, como os outros. A partilhar conteúdo que gosto e que acho que faz sentido junto das pessoas com quem estou conectado.

Mas. Mas a transição para o digital não pode ser feita de forma leviana, ao aplicar exactamente o mesmo conteúdo e mensagem transmitida no offline para uma plataforma onde as regras são, de facto, diferentes. Porque senão, os senhores consultores de comunicação estarão também a replicar os seus vícios de trabalho de que agora tanto fogem, tornando-se em "assessores de imprensa digitais" em vez de "consultores de comunicação estratégica".

Digo isto porque sofro de um mal no meu perfil do facebook. Basicamente, 80% dos requests que me foram dirigidos nas últimas duas semanas provêm de fontes (pouco) sofisticadas de informação. Assim que os "requests" e as "suggestions" do Facebook se tornaram rapidamente no "Press Release 2.0". Com a agravante de que a informação veiculada é directa e portanto nem sequer um bocadinho filtrada por um curador (vide jornalista estagiário), aumentada pelo efeito spam que isso provoca na minha caixa de e-mail e revelando por completo a identidade das pessoas que veiculam essa informação (os consultores). Que, de resto, me enviam conteúdo sobre inaugurações de filmes (que se realizam em distritos onde eu não moro), movimentos e causas (que não me dizem nada) festas (em londres ou em São Paulo), entre outras informações que nada têm a ver com o meu perfil.

É certo que a interactividade do conteúdo partilhado nas redes sociais permite aprofundar as mecânicas do press release. Há links, há quizzes, há eventos e outras brincadeiras a explorar.

Mas. Mas isto tem de ir lá de outra forma. Senão, dentro em breve, arriscam-se a que haja outras pessoas como eu - sensíveis e com a mania que sabem - a criar grupos tipo "I hate PR professionals on Facebook". Ou "I hate when (inserir marca odiada aqui) spams me on facebook". E com este tipo de trabalho, estes profissionais deixam de ser consultores e passam a ser asessores outra vez. Digitais, mas assessores.

A resolução deste problema poderia passar pela criação de ferramentas próprias para profissionais de mark&com nestas redes. Autenticando-os, identificando-os, permitindo o envio segmentado de informação para os utilizadores.

Não sei.

Mas. Mas qualquer dia um cliente irá pedir a uma qualquer empresa de "consultoria de comunicação" "quanto custa para enviar um press release pelo facebook? E quantos friends é que a vossa empresa tem mesmo?".

3 comentários:

João Villalobos disse...

Bom post com um bom final.

Anónimo disse...

Tenho reparado que a página de facebook do Buzzofias mostra os mesmos conteúdos que o blog.

De que modo é que estas ideias estão a ser levadas em consideração para tornar o buzzofias num local de diálogo e assim fugir aos vícios apontados?

JC disse...

Infelizmente nenhum de nós se dedica em exclusividade ao Buzzofias para podermos implementar as boas práticas, do nosso ponto de vista, que tentamos dar a conhecer.

Rreplicar o que se publica no blog noutras plataformas, como o twitter, facebook, etc., não é o ideal, longe disso, mas permite que mais gente tenha contacto com estes conteúdos, sem sequer nos visitar. Aumentamos apenas os canais de contacto, mas de facto não tiramos total partido de cada um.

O ideal, julgo eu, caso a nossa estrutura o permitisse, seria ter um gestor por cada canal, uma vez que as linguagens são diferentes. Tentamos, na medida do possível, personalizar as mensagens, mas nem sempre conseguimos.

Ainda assim, o diálogo é sempre possível, através dos comentários no blog (talvez a mais eficaz), no facebook; através dos tweets ou via mail.

Nós também não andamos a adicionar "amigos" à toa, sem critério. Não nos impingimos. A página de fãs do facebook é aberta a quem quiser seguir ou sugerir a outros.

Esta é apenas a minha opinião.

Obrigado pelo comentário.
um abraço,