sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Saberá bem pagar tão pouco?

A Duda publicidade abriu filial em Portugal, gerando bastante buzz e repercussão mediática nos meios do trade.

E assina agora o seu primeiro trabalho, um anúncio para o Pingo Doce. Um contrato de serviços atípico, segundo Duda Mendonça, fundador daquela agencia de publicidade - é que a Duda é a mais recente sócia do Pingo Doce (e stakeholder da Jerónimo Martins portanto! Será que a CMVM foi informada disto? :) ).



Ora apetece-me dizer coisas acerca disto:

.1 Eu não gosto do anúncio.

.2 Não tenho de gostar do anúncio. Ele tem é de criar valor para a marca e ser relevante junto de um determinado target, de acordo com uma mensagem pré-definida. Mas a Jerónimo Martins, que já havia aprendido tanto e tão bem com a experiência da Bierdronka na Polónia, ao pilotar a marca do Pingo Doce de forma exemplar em Portugal, parece ter mudado completamente de ideias de um dia para o outro. Talvez estivessem fartos de pilotar uma marca de forma tão coerente, bem feita e invejada pela concorrência e tenham decidido arriscar. Mudar, sei lá. Eu percebo. Sou portista e, confesso, às vezes ganhar com tanto avanço torna-se uma seca tremenda. My guess is: o apelo de fazer uma campanha barata (Duda Mendonça parece afirmar que o valor cobrado foi somente o suficiente para cobrir custos fixos, associados a uma success fee) terá sido demasiado forte. Não resistindo aos preços baixos, a JM terá preferido arriscar o brand value do Pingo Doce. Veremos é se lhes sabe bem. ;)

.3 Não sei se, no contrato assinado entre a Duda e o Pingo Doce, haverá uma claúsula que compreende a inclusão das inserções noticiosas negativas no success fee do trabalho. A haver e a julgar pela reacção nos media sociais, a Duda não vai ganhar assim tanto $ com este primeiro trabalho. Isto porque:

.4 Aparentemente, há um grupo no Facebook de "Gente que não grama o anúncio do Pingo Doce do Duda", que conta já com 500 pessoas (em menos de 24 horas da sua criação).

.5 Nesse tal grupo do Facebook aconselha-se o envio de um e-mail para expressar a sua opinião sobre a campanha para comunicacao@jeronimo-martins.pt

.6 Aparentemente, há uma carta aberta aos responsáveis do Pingo Doce (altamente comentada), em que um pingo docense discursa abertamente contra a campanha.

.7 Twitter search com o termo "Pingo Doce":



.8 Os profissionais de PR que trabalham a Jerónimo Martins devem estar em pleno processo de gestão de crise. O clipping do PD não deve estar bom nos media sociais ( é mais ou menos nesta altura que se diz ao cliente que "as novas plataformas digitais têm de facto uma importância crescente, mas a sua repercurssão no valor da marca ainda é muito diminuta").

.9 Agora mais a sério, espero honestamente que a Duda consiga criar bom trabalho para o Pingo Doce durante o próximo ano. Naturalmente que deverão haver coisas a ajustar mas esse é um caminho que percorrem todas as empresas.



------UPDATE----------

Foi inclusivamente criado um hilariante quizz no Facebook intitulado "Que cliché do Pingo Doce és tu?" - "Do senhor inglês com a bandeira invertida, ao electrico e ao castelinho, descobre aqui o cliché do anúncio do pingo-doce com que te identificas mais.".

A mim saiu-me o cliché do "Senhor da Bandeira".

7 comentários:

T disse...

Eu sou o eléctrico e tenho a honra de de estar no início de tamanho movimento!

Vá, objectivo 10.000 pessoas!

T disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
mc disse...

é realmente o primeiro anuncio a uma grande superficie que é tão falado, comentado, publicitado...por falar em pingo doce, vou ver se ainda está aberto..

Carochinha disse...

Tb não gosto do anúncio. A musiquinha é do mais irritante que há. Mas a questão é que o anúncio não é suficiente mau a ponto de se tornar cómico - como por exemplo é o caso do anúncio do Trinaranjus - é simplesmente mau. Ponto.

Anónimo disse...

Este anúncio rebenta de pinderiquice nacionalista-saloia, até as putas das maçâs foram enfileiradas de acordo com as cores da bandeira e fazem lembrar um filmito terceiro mundista da Leni Rifenstahl.

vG

Anónimo disse...

O que me faz sorrir e que se olharem a vossa volta esses cliches, estao todos presentes, dai serem um cliche, por serem comuns...

E ninguem escapa ao cliche, nem mesmo aquele grupo que diz nao gosta de cliches, que normalmente se veste originalmente de acordo com oque viu na revista, que vai aos restaurantes que sao considerados mais IN ( em ingles) pelos seus pares, que se considera altamente criativo dentro de certas regras, que reclama de nao se puder fumar, que diz que tudo tem de ser verde. em fim outro cliche

Jokas

Paula

André Martins disse...

Olá. Chego um bocado tarde a este assunto e nem tinha percebido que gerava uma polémica tão intensa... Tenho um blog recém nascido no qual os dois primeiros artigos são críticas ao anúncio do PD. O primeiro é uma espécie de análise cinematográfica ao anúncio e o segundo dedica-se apenas à questão da bandeira invertida. Depois das bandeiras do Scolari e da cuspidela da Maitê Proença, surge aqui uma nova oportunidade para verificar como se aborda o nacionalismo a partir doutro país...
Por outro lado, a reacção ao anúncio identifica um estilo ao qual os portugueses não estão completamente habituados. O frenético incentivo a cumpir uma ordem subliminar: "venha cá, venha cá, venha cá".