Recentemente, e por duas vezes em contextos distintos, dei comigo a pensar nos títulos que a profissão traz. Somos accounts, assessores, consultores, relações públicas, executivos de contas. Escolham a agência e ela responderá com uma hierarquia feita à medida de egos e ideais fundadores. Na prática, vai dar tudo ao mesmo. Nem entro nas escadinhas do júnior, sénior, coordenador e director. Já são tricas e não gosto de me meter nelas. Faz-me espécie, confesso, que se possa ser sénior do que quer que seja com dois anos de experiência. Mas isso são outras águas.
Esta confusão na denominação do profissional reflecte, a meu ver, uma esquizofrenia que em tudo empobrece a classe e nada faz pela valorização do nosso trabalho junto do cliente. Sejamos francos, e aqui entre nós que ninguém nos ouve, um cliente que pague, vá, mil e quinhentos euros a uma agência para que esta lhe faça os press releases pedidos, comunique os eventos que ele, cliente, idealiza e concretiza, nos timings que o cliente sugere, é um cliente roubado.
Explico: fazer um press release é coisa que qualquer recém-licenciado sabe fazer - ou devia (um dia faço um post sobre a preparação dos jovens que chegam ao mercado de trabalho). Obedecer a um director de marketing ou de comunicação que já delineou estratégia é um trabalho que não tem porque custar muito. Redigir press releases, construir bases de dados, fazer convites e follow ups, não é coisa que peça profissionais de luxo, pagos a peso de ouro.
Ser capaz de olhar para um plano de marketing e criar uma estratégia eficaz que seja uma mais valia na obtenção de resultados, talvez requeira capacidades intelectuais, conhecimento do mercado e da marca, dos consumidores, dos jornalistas, dos meios. E este know how deve ser pago a peso de ouro. Porque este conhecimento é fundamental para construção da reputação e reconhecimento de uma marca.
Um consultor, um bom consultor, deve dominar o básico, sim, ser capaz de preparar um bom press, saber onde param os jornalistas - ainda para mais num tempo em que as redacções estão em constante mudança. Deve ser persuasivo e um bom representante das marcas. Mas o consultor deve ainda conhecer o mercado e a concorrência das suas marcas, o mercado editorial, os consumidores, as campanhas, o que se faz por cá e o que se faz lá fora. Um consultor não se limita a "fazer" notícias - um consultor traça um caminho que contribui para os (bons) resultados da marca. Um consultor planeia e observa, reagindo aos movimentos de jornalistas, consumidores e concorrência. Observa as tropas da colina.
Mesmo que depois, e por quinhentos euros, sejam outros a manejar a espada.
3 comentários:
Mas isto não é obvio?
Sinceramente, muitas vezes, e cada vez mais constantemente, irrita-me profundamente esta aparente ignorância do mercado e sobre o mercado.
Fico sempre a perguntar-me só eu é que acho estas coisas todas obvias demais para escrever sobre elas ou o quê acontece?
Tenho um post guardado a mais de um ano exactamente sobre a preparação dos recém-licenciados, que até hoje não tive coragem de publicar por achar muito óbvio.
Acho que vou repensar a estratégia, porque pelo visto o óbvio, afinal é difícil de ver!
Espero ter mais posts deste tipo a aparecer por aí! Parabéns por propor este tipo de discussão.
Eu sonho com o dia em que seja quase heresia deixar cair o Sr(a). Consultor(a), assim como hoje em dia acontece com o Sr. Eng.º ou Sr. Dr.
Podem ser todos muito fraquinhos, saber todos muito pouco, o básico, mas o Sr. Dr. e o Sr. Eng.º dão logo outro cenário à actividade!
Sonho com o dia em que estejamos todos reunidos numa Ordem dos Consultores!...
Há muitas coisas neste texto com as quais não concordo, aliás, todo ele me parece de uma simplificação e generalização gritantes, para além de muito, muito pouco realista. É giro mandar bocas - pois é - mas cuidado para não ofender os colegas, porque os há de todos os tipos. O nosso mercado é muito heterogéneo: tomando o seu exemplo do que acha ser o mais básico (escrever um press), acha mesmo que saber escrever uma notícia é uma coisa básica? Olhe, só nesse mesmo parágrafo, o autor dá um daqueles erros de cartilha. E isto é 'só' ortografia... um texto é mais que isso.
Venham eles, os profissionais competentes e criativos, concordo. Mas venham também os clientes que pagam o justo e deixam os consultores serem competentes e criativos, porque a verdade é que muitos deles não largam o osso, mesmo pagando!
Mas obrigada, valeu a reflexão. ;)
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