terça-feira, 22 de setembro de 2009

O estado do jornalismo e a sofisticação das fontes.




"O jornalismo cada vez pensa menos", diz Vasco Ribeiro. Eu concordo. Durante a entrevista, ele culpa a "pressão sistemática destes profissionais da comunicação" por esse facto*. Eu discordo. Na medida em que, creio, a culpa do enfraquecimento do jornalismo advém da falência do sistema de financiamento da imprensa: menos receitas publicitárias, menores vendas em banca, aumento da concorrência via citizen journalism e consequente redução da importância do jornalista enquanto curador da informação, agregação livre dos conteúdos jornalísticos online por parte dos motores de busca, perda de relevância da distribuição de info. diária VS informação em real-time, o cada vez menor peso da informação "generalista" face às necessidades cada vez mais específicas dos consumidores de informação... etc.

Meaning: os jornais (e meios generalistas de informação, de uma forma geral...) precisam de encontrar um novo modelo para subsistirem, uma vez que o preço da informação é cada vez menor (não confundir com o preço da opinião). Só encontrando um modelo de negócio diferente ( e nem o Rupert Murdoch parece saber qual é...), que acompanhe a evolução da peça noticiosa é que esta se tornará novamente rentável, económica e socialmente. E, naturalmente, essas instituições noticiosas tornar-se-ão mais resistentes a pressões, porque passarão a poder colaborar novamente com bons profissionais e garantir alguma estabilidade na sua produção de conteúdos.

Naturalmente que os profissionais das agências de comunicação e assessores e tal e coisa veiculam a informação que entendem ser a que mais beneficia os seus interesses, tentando divergir a atenção de temáticas que prejudicam as suas instituições. Não é natural que, numa instituição, se queira controlar qual é a posição e a mensagem de uma empresa, sabendo que essa mensagem representa uma estratégia de negócio, reputação, marketing, política que irá ter um impacto nos objectivos da instituição?

Obviamente que, se a informação distribuída for falsa, isso deverá ser alvo de penalização, já que impacta o valor percebido de uma empresa/instituição/pessoa e está a adulterar a realidade. Tal como a contabilidade criativa tem os seus limites, também a "assessoria criativa" deveria ter os seus - falta talvez um código de conduta "à séria" para regular a profissão, ou um certificado ISO-qualquer-coisa para certificar as agências de comunicação. Mas estandardizar, aconselhar e dirigir a informação é uma arte muito antiga e surpreende-me o espanto que causa a existência de lobbystas nessa área. Os bons políticos são, eles próprios, spinners. Os bons CEO's são directores de comunicação (steve jobs, anyone??). Tal como os publicitários, gestores de marca, assistentes de venda, opinion makers, jornalistas, etc controlam ou podem controlar a informação das suas marcas, empresas, projectos, intenções.

Interessa a todos um jornalismo forte. E interessa uma verdadeira discussão sobre este tema, de forma a fortalecer a transparência de processos. Interessa assim ao sector da comunicação - composto por meios e por agências e por opinion makers e bloggers e jornalistas e cidadãos e tudo e tudo e tudo - deixar de lado o umbigismo e a atribuição de culpas de parte a parte, e começar a discutir como raio é que se cria um sistema sustentável para que o processo de informar se torne novamente rentável e digno e, consequentemente, que torne ainda mais digno e diferenciador o trabalho dos lobbystas, que terão também eles de sofisticar as suas ferramentas de comunicação.


Se quiserem contar com a ajuda do Buzzófias para o efeito, ao oferecer esta plataforma, o seu conteúdo e as inacreditáveis carolas dos seus colaboradores para contribuir para a melhoria do estado da arte, let us know.



* Não li ainda o livro de Vasco Ribeiro, mas pretendo fazê-lo em breve, porque a temática me parece importante. Ainda mais despertou o meu interesse com a entrevista que deu, que conduziu com um tom de voz natural, honesto, passando mensagens claras e aliciantes... Terá preparado previamente aquele momento de comunicação? How sophisticated... ;)

2 comentários:

Anónimo disse...

Sim, sim. Diz que este meu antigo professor é muito sofisticado... Ai...

Anónimo disse...

Brilhante comentário...concordo com tudo. Mesmo com o que dizes/pensas não concordar comigo! :)
Abraço,

Vasco Ribeiro