quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Come to the dark side...



Textos como os de Eduardo Cintra Torres, comovem-me. Chego à agência com uma dor na alma. Somos os maus, malta.

Vejamos: enviamos dicas a jornalistas, que favorecem a quem nos paga. Enviamos Press Releases, promovemos entrevistas. Divulgamos informação útil aos nossos clientes. Crimes. Temos sangue nas mãos. Somos como que uma irmandade das trevas que trabalha enquanto a sociedade dorme descansada. Talvez o problema seja esse. Uma sociedade que dorme.

As ferramentas das agências estão ao dispôr dos cidadãos. Mas não convém que se saiba, não é? Quando se souber que qualquer um pode ter acesso aos e-mails dos jornais, que qualquer um pode enviar press releases e fazer follow ups, o que é que acontece às agências? Os contactos dos jornalistas devem ser (e muitas vezes são) públicos. Qualquer um, desde o assessor do Presidente da República ao amolador de Campo de Ourique, pode sugerir temas a serem tratados nos meios. Qualquer representante de qualquer instituição, grupo, irmandade, pode divulgar as suas actividades, os seus pensamentos, as suas ideologias. Qualquer cidadão pode (e deve!) denunciar os erros, as falhas, de instituições, de produtos, de serviços. Qualquer um. Até as Agências.

Artigos como os de Eduardo Cintra Torres gostam de omitir este facto. O manto negro que encobre a actividade em Portugal é útil a muitos. Às grandes agências, cujos directores gostam de ocupar o lugar de um Mefistófeles dos tempos modernos, que vendem aos seus clientes o poder sobre as inocentes almas dos jornalistas. Às pequenas agências que cobram fees mensais a clientes a quem bastaria um estagiário para traduzir, enviar e fazer o follow up de Press Releases. E a todos os que sabem que o acesso aos Meios de Comunicação Social é um gesto de cidadania, mas que preferem guardar para si o "poder de influência".

Gosto também do carácter amorfo com que Eduardo Cintra Torres descreve os jornalistas. Afinal não há gatekeepers. A informação chega e é disparada. Não há critérios de selecção. O jornalista não escolhe, não pensa, não decide.

Talvez por isso mesmo muitos deles vêm para agências. Come to dark side... We have cookies!

1 comentário:

Francisco Morgado Véstia disse...

LPM para Eduardo Cintra Torres:


(imaginem uma voz ofegante)


" Eddy... I Am Your FATHER!!! "