sexta-feira, 26 de março de 2010

Spammers

Há cerca de dois dias que sou bombardeado com um convite para me tornar fã de uma determinada fan page no Facebook. O convite já me foi endereçado por cerca de três profissionais de comunicação, que pertencem a uma agência responsável pela divulgação da tal fan page.

Não contentes com o facto de ter decicido ignorar aquele request pela primeira vez, o mesmo profissional enviou-me, no mesmo dia, novo convite para me tornar fã da dita página. No dia seguinte, os seus companheiros de agência enviaram-me também o convite, duas vezes cada um. E eis que, num total de três dias apenas, rejeito 6 vezes(!) o mesmo invite.

Os clientes que contratam agências de comunicação deveriam repensar o dinheiro que investem nas redes sociais por via destas. Na medida em que, com este tipo de práticas - que já vi serem perseguidas naquela rede por parte de muitos profissionais - as fan pages serão somente baseadas nos amigos dos amigos dos tais profissionais de comunicação. O que cria dois problemas:

1.Segmentação nula, na medida em que os fãs da marca X e os fãs da marca Y são exactamente iguais (são os tais amigos dos profissionais de comunicação), o que impede que cada marca construa o seu público próprio, adequado ao seu tom de voz (e depois pasmem-se que a audiência não interage...).

2.Transforma estes "comunicadores digitais" em spammers. O que é chato para o utilizador. Que a determinada altura, quando a plataforma estiver mais madura, bem poderá rejeitar quaisquer convites dessas pessoas. E é chato para os outros colegas de profissão - porque no médio prazo vão achar que os colegas não percebem nada daquilo e descredibilizar a sua "estratégia de novos media".


Pá...
Lembrem-se que os diversos consultores de uma agência têm diversos amigos em comum, que serão sempre alvos de spam, na medida em que irão receber a informação por diversas vias. Que não vale a pena mandar dois invites no mesmo dia às mesmas pessoas. Que deveriam acreditar-se no facebook como profissionais de PR para tornarem claras as vossas intenções. Que criar públicos para as marcas,em qualquer plataforma, envolve um trabalho de pré-produção cujo objectivo é defini-lo e encontrar imageria, tom de voz e um discurso focado para aquele público. Que quando o mercado estiver maduro só os que criaram as melhores práticas é que vão efectivamente perdurar, já que isto de sacar uns 600euritos com a actualização do facebook/twitter/blog do cliente vai acabar se o trabalho não for bem feito.

Ouve-se tanta bullshit sobre "as marcas terem de dialogar", "listen, sharem engage", "o mundo mudou e as mensagens já não podem ser introduzidas na cabeça das pessoas" e depois toca tudo a fazer o de sempre (salvo raras e honrosas excepções, que as há): comunicação unilateral, baseada em dinâmicas de press release.

O problema? Está-se a tratar o utilizador das redes como se trata o jornalista estagiário da redacção. Só falta fazerem follow-ups para ver se me quero tornar fã.


(desculpem lá o moralismo. Mas é sexta.)