quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Jingle Protocolar


Adoro saborear um bom momento de agradecimento público!

Sobretudo aqueles que nos alienam de qualquer emoção, permitindo uma avaliação perfeitamente racional.

Apreciar a forma tão pouco genuína e mecânica com que o fazem.


Experimentem. É delicioso…o agradecimento protocolarmente correcto.


E o que eu aprecio protocolos.

Pré-discurso, surge a listagem de agradecimentos.
Aos excelentíssimos e digníssimos.
Apercebemo-nos exactamente de quem comanda cada cadeia alimentar e qual a importância de cada ecossistema.
(O que é importante).

Diverte-me ouvir a mesma lenga-lenga um sem número de vezes num mesmo Evento…e, dependendo do número de oradores, acabo por conseguir decorar o refrão!

E penso. Não seria bem mais caloroso ensiná-lo logo no início – um pequeno folheto contendo as lyrics à entrada faria toda a diferença.

Imagino uma audiência em uníssono, em tom de reza conventual, apoiando o protocolo de agradecimentos.
Envolvendo-se num intenso momento de partilha que acalenta a frieza do espaço e das relações nestes momentos, intensificando o carinho por cada orador aos seus congéneres e convidados especiais.

Seria um mundo mais bonito.


No entanto salta a ressalva em defesa daquela que “é uma forma pré-concebida e padronizada de leis e procedimentos”.
Existe um momento em que o protocolo de agradecimento é criativo!
Para pessoas como eu. Que estão a ouvir e não vão orar nada…

Este curto e temido auge da criatividade é cumprido após o percorrer da listagem tantas vezes revista pelos assistentes e secretários (o tal do refrão) dos excelentíssimos senhores doutores e dos digníssimos directores do que quer que seja…

Dedicada à audiência (em geral) temos uma curta oscilação entre “ilustres convidados” (para os mais pomposos), e o clássico “meus senhores e minhas senhoras” (para os mais simples conservadores).


Sugestão.

Caso vos falte paciência. Optem pela aposta. Mesmo que convosco mesmos.
Tentem decorar o refrão.
Detectem quem não o soube cantar e apostem na melhor finalização.
É divertido!
Ajuda a passar o tempo e estimula a inteligência intuitiva (sim, porque a emocional não está em pleno uso).

No final atribuam um prémio àquele que protocolarmente se destacou.
As melhores inflexões de voz. Pausas estratégicas. Expressão corporal.
Enquanto agradecia…


Atenção.

Elementos de confiança entre a audiência contribuem fortemente para o sucesso deste exercício (que para além de intelectualmente estimulante, também o pode ser fisicamente. Sim porque enquanto se trava o riso, contraem-se os abdominais).

Passam-se bons momentos e depois até se escrevem posts sobre o assunto.


No entanto, aqui deixo uma questão de fundo…
Em tempos de mudança rápida. Optimização na gestão de tempo e outros clichés tão vigentes no universo onde vivemos sempre a correr, não estará este protocolo em crise?


…eu cá.
Gosto de refrões.
Mas não me obriguem a ouvir sempre a mesma canção!

3 comentários:

LLM disse...

à entrada de algumas óperas distribuem um folheto (é só um desdobrável, mas aposto que tem um nome pomposo em italiano) com as 'letras das canções' para podermos seguir a história.

e não, não é para nos juntarmos aos solistas na altura do refrão.

Francisco Morgado Véstia disse...

Antes de mais...

Queria agradecer a SB pelo belíssimo post que nos leva a interpelar esta caixa de comentários neste belo dia...

A LLM por abrir o mote, e não esquecer o JC pelo ritmo de posts semanais.

A ICS, DC, JM e PLO, quero agradecer a sua presença. E a AF e JMH o apoio incondicional que me têm prestado ao longo da minha carreira de blogger...

Só queria dizer, que não tenho nenhum comentário a tecer sobre a matéria em questão.

Obrigado.

SB disse...

Eu vou mais a concertos rock do que a óperas...

Talvez daí o desejo em cantar o refrão em conjunto.